21/04/2013

A garota que vomitou a hóstia.

         Ela pensou que seria divertido ir à missa com a mãe. Esta ainda não havia se convertido. Era um domingo de sol e nenhuma das duas gostaria de ficar o último dia do fim de semana em casa. Então, lá foram.
        O colorido da cidade era marcado pela sua roupa; a radicalidade, pelo seu cabelo. Estava indo à missa, a garota. Algo que raramente fizera em sua vida.
        A cerimônia já havia começado e 90% dos lugares já estavam ocupados. Era uma parte em que todo mundo ficava de pé, sei lá. E a garota achava estranho todos estarem de pé se poderiam estar sentados, muito mais confortável. Outra coisa que lhe chamou a atenção foi as músicas de melodias estranhas e letras conceituais.
       Havia chegado a melhor hora: a que todos voltam a ficar sentados e que podem pensar no que quiser, que ninguém repararia em nada.
        No meio daquele falatório, o olhar perdido da menina continuava turbulento. Até que seus olhos se cruzaram com os do padre e os olhares mútuos formaram uma conexão estranha, tensa e, sim, ainda turbulenta. Ele falava que quem fosse a favor do aborto, não ia pro Céu, e olhava pra ela. Ele falava que união homoafetiva não edificava, e olhava pra ela. Ele falava que quem usasse camisinha, era pecador, e continuava olhando pra ela. E ela olhava para o padre com desdém, receio e até medo, como se estivesse de cara com o Demônio. E se a garota apoiasse o aborto, a causa gay e o uso da camisinha? O que isso significaria?
       Resolveu comungar pra saber se ela tinha salvação, já que o corpo e o sangue de Jesus tem poder. Ao voltar para o seu lugar, sentiu um refluxo e logo após, uma tontura. Foi naquele silêncio de encerramento e de compaixão superficial que a garota deu largos passos e se dirigiu à pracinha da Igreja, já que não sabia onde ficava o banheiro. Lá ficou.
        Cristo não havia aceitado-a. Ela não seguia o bom pastor.

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