Ela pensou que seria divertido
ir à missa com a mãe. Esta ainda não havia se convertido. Era um domingo de sol
e nenhuma das duas gostaria de ficar o último dia do fim de semana em casa.
Então, lá foram.
O colorido da cidade era marcado
pela sua roupa; a radicalidade, pelo seu cabelo. Estava indo à missa, a garota.
Algo que raramente fizera em sua vida.
A cerimônia já havia
começado e 90% dos lugares já estavam ocupados. Era uma parte em que todo mundo
ficava de pé, sei lá. E a garota achava estranho todos estarem de pé se
poderiam estar sentados, muito mais confortável. Outra coisa que lhe chamou a
atenção foi as músicas de melodias estranhas e letras conceituais.
Havia chegado a melhor
hora: a que todos voltam a ficar sentados e que podem pensar no que quiser, que
ninguém repararia em nada.
No meio daquele falatório, o
olhar perdido da menina continuava turbulento. Até que seus olhos se cruzaram
com os do padre e os olhares mútuos formaram uma conexão estranha, tensa e,
sim, ainda turbulenta. Ele falava que quem fosse a favor do aborto, não ia pro
Céu, e olhava pra ela. Ele falava que união homoafetiva não edificava, e olhava
pra ela. Ele falava que quem usasse camisinha, era pecador, e continuava
olhando pra ela. E ela olhava para o padre com desdém, receio e até medo, como
se estivesse de cara com o Demônio. E se a garota apoiasse o aborto, a causa
gay e o uso da camisinha? O que isso significaria?
Resolveu comungar pra
saber se ela tinha salvação, já que o corpo e o sangue de Jesus tem poder. Ao
voltar para o seu lugar, sentiu um refluxo e logo após, uma tontura. Foi
naquele silêncio de encerramento e de compaixão superficial que a garota deu largos
passos e se dirigiu à pracinha da Igreja, já que não sabia onde ficava o
banheiro. Lá ficou.
Cristo não havia aceitado-a. Ela
não seguia o bom pastor.
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